sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Socialização escolar: a socialização que não deu certo [Parte 2]



O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Espaços públicos, frequência obrigatória, separação das crianças por idade, conteúdo único, avaliações constantes, horários fixos: o terreno estava preparado para uma ruptura ainda maior entre as famílias. O enfraquecimento da família começou mais intensamente com a revolução industrial.

No período colonial, as famílias eram pequenas unidades econômicas, autônomas e livres. Todos estavam envolvidos com a família, não havia distinção entre estudo e trabalho, nem havia necessidade de socialização porque as famílias eram numerosas e ajudavam-se mutuamente na comunidade em que moravam. Os tutores trabalhavam nas casas e eram quase membros da família, tamanha era a intimidade que compartilhavam. O trabalho nas fábricas alterou esse modo de vida e o conceito de trabalho e educação.

A revolução industrial tirou os pais do lar e desvinculou dele a atividade econômica produtiva; além de esvaziar as casas, deixou-as sem sentido ou propósito. As mulheres foram as primeiras a sentir o impacto dessa revolução e a atitude enérgica que tomaram contribuiu ainda mais para o declínio da educação familiar. O tempo com os filhos diminuiu bastante e a educação dirigida pelos pais tornou-se impraticável. A escola floresce num mundo positivista, que passou a olhar as crianças como números e objetos de verificação e aperfeiçoamento para o trabalho nas indústrias. “As escolas”, como afirmou Gatto, “tornaram-se enormes laboratórios de psicologia comportamental, ensinando que o livre arbítrio, mesmo em questões tão básicas como a necessidade de urinar, deve ser subordinado aos caprichos de quem têm o poder”.


A revolução sexual foi também responsável pela queda da natalidade nas famílias e total ausência dos pais em casa, pois pai e mãe agora saíam para o trabalho fora do lar. As crianças tiveram que se adaptar aos horários dos pais, e o trabalho, que antes era visto como parte da unidade familiar, passou a se utilizar da criança como mão-de-obra barata. Surgiram as primeiras legislações proibindo essa prática e a escola foi o grande escape para as crianças abandonadas em seus próprios lares. O lar, como o centro da educação e socialização, foi transferido para os enormes prédios, mais parecidos com prisões do que com ambientes saudáveis de convivência.

Além disso, e talvez como resultado da necessidade cada vez mais crescente de profissionais terceirizados e especialistas, muitos pais e mães perderam a confiança em sua capacidade de criar e educar seus filhos porque acreditaram que não possuíam informações e aptidões necessárias para desempenhar tal tarefa. Os ecos dessa crença é sentido hoje: eles não só aceitam a ideia da escola indispensável na formação educacional como também se voltam para os especialistas em todas as demais áreas da vida, pois presumem que eles sabem o que é melhor para as crianças. A respeito disso, Neil Postman, no seu livro O Desaparecimento da Infância, comentou:


Conhecimento e trabalho andam de mãos dadas e possuem significados diferentes em cada época da história. Desde a Revolução Industrial, o trabalho e a educação foram concebidos para formar trabalhadores úteis ao sistema. A socialização distante da família é a inovação que a Revolução Industrial sacramentou como único caminho para a vida adulta. A socialização familiar e comunitária é a norma que permanece desde que a humanidade veio a existir.

O convívio social da criança assume um aspecto singular ao longo da história. Há momentos de muito enriquecimento desse convívio; em outros, negligência; e ainda em outros, uma completa distorção do sentido. Mas, em nenhum momento, pode-se dizer que a criança não está socializada, embora é possível dizer que ela está muito perto de se tornar um selvagem.
(Continua...)
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Adna S Barbosa

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